Sabemos que muitos problemas sociais hoje são mais complexos do que alguma vez foram. E que essa complexidade exige que se juntem várias pessoas e organizações, vários recursos e competências, para que se possa ambicionar a construção de soluções mais acertadas.
“Easier said than done.” Verdade.
Criar uma rede é uma das formas de agir nesse sentido. Estar numa rede é algo natural para qualquer um de nós. A família é uma rede social, o grupo de amigos também, para além de todos os grupos a que pertencemos em atividades culturais ou desportivas a que estamos ligados. Mas aqui venho falar-vos brevemente de redes de impacto. Uma rede de impacto é diferente de uma rede social natural. Uma rede de impacto é um tipo específico de rede em que as pessoas e as organizações se juntam com uma intenção específica de desenvolverem aprendizagem e/ou ação em conjunto.
Segundo David Ehrlichman no livro Impact Networks, escrito com base no trabalho desenvolvido na Converge (espreitem o site: https://www.converge.net/), as redes de impacto podem ser de três tipos:
(1) redes de aprendizagem, focadas na conexão e na aprendizagem, formadas para facilitar o fluxo de informação ou conhecimento para fazer avançar a aprendizagem coletiva sobre um determinado assunto.
(2) redes de ação, focadas na conexão, na aprendizagem e na ação, formadas para facilitar essa conexão e aprendizagem ao serviço de uma ação coordenada.
(3) redes de movimento, que ligam redes de aprendizagem e de ação, criando redes de redes. Funcionam muitas vezes como redes de aprendizagem ou redes de ação, mas também facilitam a partilha de informação entre redes, bem como a ação concertada entre redes. Por vezes são estas redes que catalisam a criação de novas redes de impacto, quando detetam essa necessidade numa região particular onde não existem, ou para abordar um assunto específico que não é o foco de nenhuma outra rede.
Há muito que em Portugal se fala em redes na área social. Redes deste e daquele tipo. Quantas e quais funcionam? Quantas e quais produzem resultados? Quantas e quais produzem impacto? Se o leitor ou a leitora que está nesta linha comigo conhece uma rede que funciona, envie-me um email e diga-me qual, porque eu gostava de conhecer (o meu email é raquelcfranco@deforafora.com). Para aprender.
Um dos aspetos centrais de uma rede – e a cultivar desde o primeiro momento – é a confiança. Este é um chavão, ou como na língua inglesa se diz, uma “buzzword”. A confiança não é um subproduto de um trabalho em conjunto, pelo contrário. Deve ser cultivada, portanto, intencionalizada. Como Ehrlichman explica, não só a confiança cria coesão no grupo, como também aumenta a inteligência coletiva e expande as possibilidades de diálogo. Para isso, recomenda, há que cultivar a fiabilidade, a abertura franca, o cuidado com os outros e a apreciação ou reconhecimento dos outros.
Esta é uma área em que nós, portugueses, temos de trabalhar muito. No European Values Survey os portugueses continuam a evidenciar os valores mais baixos de confiança de entre os cidadãos da Europa. Vejam aqui o mapa com os níveis de confiança a cores e o gráfico da evolução do nível de confiança. Em Portugal a confiança que temos uns nos outros diminuiu: somos os terceiros nos quais a confiança mais diminuiu entre 1990 e 2017, a seguir à Itália (2º) e à Bulgária (1º).
Como neste relatório é afirmado, na abertura do tema que inclui a confiança: “If there is any known ingredient for a thriving community, it’s trust.” Nem todos ambicionam uma “thriving community for all”. Mas quem o ambiciona, por onde começar? Boa pergunta. Há tanto por onde. Fazer voluntariado, ajudar os vizinhos, inovar na resolução dos problemas desafiando parceiros para desafios sociais concretos. Criando assim redes.
O tema interessa-lhe? Vamos conversar (envie-me um email: raquelcfranco@deforafora.com).