Uma organização ou uma empresa que queira melhorar e fortalecer o seu ambiente de trabalho tem de ser capaz de criar espaços de inclusão que permitam que a atividade singular desempenhada por cada um que nela trabalha possa florescer e prosperar dentro de um projeto comum. Só deste modo é possível dizer que a ética se torna o princípio em torno da qual a empresa se constrói e para isso é fundamental que seja capaz de:
- Promover um espaço onde cada pessoa possa questionar e avaliar a sua contribuição;
- Estimular as potencialidades/capacidades de cada um;
- Desenvolver espaços de liberdade e de criatividade;
- Criar confiança e equidade;
- Cuidar uns dos outros;
- Gerar comunidades vivas.
A complexidade da empresa e da sua organização funcional e hierarquizada, pode introduzir uma grande distância entre aquilo que é vivido por cada um que nela trabalha, e o processo de composição das diferentes funções que cada um desempenha - a alienação é prova disso. O grande desafio para uma empresa que tenha em conta uma ética da generosidade consiste em saber até que ponto a empresa permite (ou não) àqueles que nela trabalham partilhar ativamente a singularidade originária de uma mesma experiência de vida. A criatividade organizacional no seio da empresa será tanto maior quanto mais as diferentes interações entre as pessoas se intensificarem. Dependendo de como interagem, a sua força vital intensifica-se ou atrofia-se e isso é crucial numa empresa.
O diálogo e a comunicação são fundamentais na vida da empresa, mas o diálogo só se manifesta como agir comum, no sentido forte do termo, se cada um experimentar solidariedade na sua forma de interagir, ou seja, um mesmo poder de ser que lhe vem da vida, que é comum a todos.
Uma ação coletiva que se centra unicamente no objetivo a realizar na organização funcional das tarefas oculta o facto de que estas tarefas só têm realidade porque são vividas por cada um. A ação coletiva só é coletiva se ela é experimentada como coletiva, quer dizer, como fruto da interação viva das pessoas que trabalham na empresa e que dinamicamente tomam a seu cargo o conjunto das diferentes tarefas e funções que desempenham, muito para além de um desempenho meramente instrumental.
Uma ação coletiva que repousa na separação das pessoas, em que cada um isoladamente realiza a sua própria tarefa no seu canto, é uma ação puramente abstrata, atomizada, que não se funda na experiência de um agir ativamente partilhado. Para que haja ação coletiva no sentido forte do termo, é necessário que as pessoas se sintam e estejam de facto envolvidas no processo da organização das suas diferentes atividades e funções.
Quando as ações realizadas por cada um não se desenvolvem de uma forma cooperativa, é porque a realidade mesma da sua ação coletiva se encontra profundamente modificada, e por vezes mesmo pervertida, em que a associação acontece fora da subjetividade individual e torna-se apenas exterioridade meramente instrumental e objetivada. A força do agir comum só se experimenta quando as pessoas se articulam ativamente umas com as outras e para que isso aconteça de facto, têm de lhes ser criadas condições para que possam viver de uma forma dinâmica as funções que têm de desempenhar e esse será um papel determinante das chefias e da gestão de topo.
No entanto, pode haver uma ação coletiva completamente desvitalizada. O modo como cada um é chamado a interagir com os outros, diz respeito à forma como se vive a realidade do agir em comum, a crença neste agir e a sua possibilidade de envolvimento é fulcral, daí a importância da procura pelo significado daquilo que se faz. Há formas de agir que enfraquecem a crença das pessoas no agir comum, nomeadamente quando não há nem diálogo, nem partilha, a comunicação é praticamente inexistente e a gestão demasiado centralizada e hierarquizada, em que a chefia não é vista e vivida como um serviço, mas como um poder autocrático.
Só há verdadeira ação coletiva quando se experimenta e partilha na singularidade mesma das nossas diferentes ações a vida que tem a sua força originária no “eu posso”, de cada um. É por isso que o papel da ética na empresa é o de tornar a empresa num ambiente vivo de trabalho em que a vida de cada um que nela trabalha se intensifica pela valorização da sua singularidade, através da partilha e da convivialidade que gera sempre mais vida.
No meu livro, recentemente lançado, “A Ética na Empresa: Uma perspetiva ontológica” desenvolvo de forma mais aprofundada estas temáticas.