À procura do gambuzino: o Chief Sustainability Officer

À procura do gambuzino: o Chief Sustainability Officer

Nos últimos meses apareceram dezenas e dezenas de anúncios no Linkedln e foram abertos muitos processos de recrutamento pelas empresas de executive research para encontrar futuros responsáveis de sustentabilidade para todo o tipo de empresas. Em geral, são pedidos formação em engenharia (do ambiente, preferencialmente), completada por diploma em gestão, o domínio de duas a três línguas, skills analíticos, capacidade de síntese, apetência para a coleta de dados e sua interpretação, capacidade de comunicação e liderança, competências de mobilização e liderança, criatividade, visão e, de preferência, algum conhecimento do setor da empresa... Experiência similar mais do que bem-vinda, num contexto em que afinal não existe assim tanto historial.

Várias vezes fui contactada para recomendar pessoas. E a resposta é sempre a mesma. "Vai ser difícil...", para não dizer que é pouco razoável.

O que vejo em empresas que acompanho há algum tempo e com desempenho muito bom, é que tal pessoa em muitos casos foi recrutada internamente. Sim, o conhecimento do setor e do negócio é indispensável, ainda mais a capacidade de saber a quem recorrer para ter acesso a informação e o talento para questionar o business as usual, entender a relação e interdependências entre escassez de recursos, alterações climáticas, evolução demográfica, expectativas das partes interessadas - com muita atenção aos colaboradores, etc. e os serviços ou bens produzidos pela empresa. Foco nas obrigações legais, não apenas numa perspetiva de compliance, mas estratégica, pés no terreno e espírito virado para a inovação. Forma de pensar sistémica.

E muita humildade. E vontade de aprender. Porque afinal o CSO é um chefe de orquestra, alguém que vai buscar dentro da empresa, experts, técnicos com experiência, que serão indispensáveis para implementar um plano, acompanhar os resultados, comentar a evolução, contribuir para o report. Todas as áreas devem ser convidadas, todas terão impacto e deverão em conjunto discutir trade-offs que por vezes poderá criar conflitos. E nestes casos, o CSO vai demonstrar mais um talento, o de saber criar condições para um debate informado e equilibrado. Pelo que, mais do que um conjunto de competências muito técnicas, é importante identificar um perfil. A especialização é indispensável, sim, mas mais para uma equipa ou dentro dos diversos departamentos.

E se ninguém corresponde a este perfil internamente, a procura externa deveria também valorizar mais a forma de pensar do que um conjunto de qualidades dificilmente encontráveis numa única pessoa e que sempre existem internamente.

*Republicado com a autorização da RH Magazine (versão original na RH Magazine de Setembro/Outubro 2023)