A questão no título não se pode evitar hoje. A guerra que se arrasta na Ucrânia e a guerra que se (re)iniciou em território israelo-palestiniano, bem como outras guerras e tensões noutros pontos do planeta, devem ser discutidas nos Conselhos de Administração das empresas – sobretudo nas que operam internacionalmente.
Estas discussões não devem acontecer meramente numa ótica de avaliação dos impactos na cadeia de abastecimento, dos impactos nos mercados e de todos os riscos associados às operações, que são temas empresariais óbvios e incontornáveis. Devem ser discutidas com o intuito de se avaliar e decidir que papel pode a empresa assumir na promoção da paz nas geografias onde opera.
Timothy Fort diz que “tentar fazer com que as empresas sejam mais éticas já é um desafio assustador; sugerir que elas desempenhem efetivamente um papel construtivo na promoção da paz, da justiça e da estabilidade vai um pouco além da nossa imaginação”. Apesar de reconhecer a dimensão do desafio, Fort acredita, e eu com ele, que as empresas podem e devem ter um papel ativo na promoção da paz, da justiça e da estabilidade.
Para concretizarem o referido papel, como Fort sugere, as empresas têm de seguir recomendações de práticas éticas comummente aceites. Se assim for, pode contar-se com um impacto inesperado: essas práticas empresariais podem tender a reduzir a violência.
A primeira prática das empresas é efetivamente contribuírem para o desenvolvimento económico dos países em que operam. As empresas ajudam os países quando criam valor nesses países.
A segunda prática consiste na promoção, pelas empresas, de Estados de Direito. Isso significa que devem apoiar a independência da justiça, devem promover o direito dos contratos e da propriedade, mas sobretudo significa evitarem a corrupção. Existe evidência da correlação entre a corrupção dos países e a tendência para se resolverem as disputas com violência. As empresas que têm políticas que desencorajam, por exemplo, a prática de subornos, contribuem para contextos sociais menos propensos à resolução de conflitos por meio da violência.
Finalmente, a terceira prática consiste na contribuição das empresas para a construção de comunidade. E isto pode acontecer a dois níveis: (1) externamente, promovendo e praticando sensibilidade à diversidade cultural e responsabilidade ambiental nas comunidades onde operam; (2) internamente, construindo verdadeiras comunidades de trabalhadores, promovendo a efetiva participação e o respeito pela diversidade.
Aqui fica este roadmap genérico de Fort, para reflexão e como base para orientar mudanças de práticas. Levadas a sério, colocarão as empresas no caminho da promoção da paz, e de um enorme contributo para o ODS#16.