Avançando no S do ESG: reconhecer os trabalhadores que são cuidadores informais

Avançando no S do ESG: reconhecer os trabalhadores que são cuidadores informais

O “S” está na moda no discurso das empresas. Além de temas como a Diversidade, a Equidade e a Inclusão (o DEI), outros relacionados com o bem-estar dos trabalhadores também são invocados. O reconhecimento da existência de cuidadores informais de entre os seus trabalhadores é um tema pouco comum. Pois, mas é hoje tema de artigo no Financial Times, sob o título da situação difícil dos cuidadores “escondidos” na força de trabalho.

Em Portugal, estima-se a existência de cerca de 827 mil cuidadores informais. 827 mil. E o que são cuidadores informais? São pessoas que cuidam de forma regular ou permanente de outra pessoa ou pessoas que estão numa situação de dependência. Com estes números e esta definição é fácil perceber que há nas empresas e outras organizações vários trabalhadores que são cuidadores informais. O envolvimento desses cuidadores nos cuidados, não sendo a tempo inteiro, porque têm uma profissão, pode ser por um conjunto de horas na sua semana de trabalho, extra-horário profissional, aos fins de semana e nas férias.

A maioria das empresas em Portugal não sabe quantos trabalhadores prestam cuidados informais. Não sabem porque os próprios trabalhadores ocultam essa realidade com receio de serem penalizados a vários níveis. Esses receios são compreensíveis. É preciso que a organização onde trabalham tenha uma cultura saudável, onde a dignidade e o cuidado pelo outro prevalecem; e, portanto, que as chefias saibam lidar de forma humana com os seus colaboradores que têm estes desafios.

É importante que as empresas reconheçam a existência desta realidade dentro de portas, num contexto em que têm tantas vezes dificuldade em encontrar trabalhadores qualificados e em que é importante preservarem quem têm. E é importante agilizar a implementação de uma política de apoio aos trabalhadores cuidadores. Porque esses trabalhadores vão estar lá, na organização, todos os dias, quer a organização conheça quer não os desafios com que aquela pessoa lida todos os dias.

"É importante que as empresas reconheçam e conheçam a existência desta realidade dentro de portas, num contexto em que têm tantas vezes dificuldade em encontrar trabalhadores qualificados."

O que as empresas podem então fazer? Entre outras ações:

  1. Conhecer a realidade, isto é, saber quantos e quem são os trabalhadores informais na organização;
  2. Conceber uma política de apoio a esses trabalhadores informais;
  3. Disseminar a política de forma clara e generalizada;
  4. Formar as chefias e restantes trabalhadores em literacia de saúde e na realidade concreta das exigências que um trabalhador cuidador enfrenta.

A política pode passar por mais ou menos dimensões. No citado artigo do Financial Times é referida uma empresa britânica de grande dimensão que dá 10 dias extra de folga aos trabalhadores que são cuidadores informais. São outras possibilidades, por exemplo, implementar flexibilidade de horário para esses trabalhadores, promover a criação de um grupo interno de partilha entre cuidadores informais, dar formação específica útil para os cuidadores informais no exercício do cuidado concreto que presta, apoiar na resolução de questões legais e de acesso a apoios necessários à situação concreta dos cuidados que o trabalhador presta.

O mais provável é que cada um de nós, no futuro, venha a ser cuidador ou cuidado. Numa posição ou noutra, esperamos ter condições que nos garantam dignidade.

Qual o primeiro passo, na sua organização?


Alguns recursos úteis sobre a temática dos cuidadores informais em Portugal:

Projeto de investigação Saúde que Conta, da Escola Nacional de Saúde Pública.

Segurança Social:

https://www.seg-social.pt/cuidador-informal

https://www.seg-social.pt/reconhecimento-do-estatuto-do-cuidador-informal

Associação Nacional de Cuidadores Informais:

https://ancuidadoresinformais.pt/

Movimento Cuidar dos Cuidadores Informais:

https://movimentocuidadoresinformais.pt/

Apresentação do estudo da ENSP (8ª edição)

https://www.ensp.unl.pt/wp-content/uploads/2017/06/8aedicao-saude-que-conta-apresentacao-1.pdf