Atualmente, são já poucos os que contestam a importância da avaliação enquanto elemento promotor de melhores práticas em todos os campos de intervenção. Assim sendo, não é de estranhar que também nas intervenções e práticas dos profissionais que trabalham na Prevenção e/ou Combate à Radicalização Violenta (P/CVE) a relevância da avaliação seja amplamente reconhecida.
Com a variedade de programas e abordagens nesta área e com os novos desafios que nela têm surgido, é crucial compreender o que funciona e o que não funciona, bem como entender como as intervenções promovem mudanças e impactos nos problemas que visam combater. Nesta área específica, as avaliações são confrontadas com a natureza rápida e complexa de contextos extremistas, dinâmicas de desradicalização, desenvolvimentos sociopolíticos e mudanças nas estruturas de financiamento das próprias intervenções.
Face ao exposto, as abordagens de avaliação devem fazer justiça às características variadas dos grupos-alvo, bem como à diversidade de partes interessadas envolvidas no planeamento e implementação de medidas de P/CVE, sendo indispensáveis para produzir conclusões fundamentadas sobre boas práticas e para fortalecer práticas profissionais em todo o ciclo de vida dos programas e projetos.
Por tudo isto, quando foi lançado o desafio de desenhar um guia de avaliação para profissionais que trabalham na área de P/CVE, a questão que surgiu imediatamente foi a de como conseguir ter uma abordagem acessível para não especialistas em avaliação, e que considerasse e desse soluções para os desafios técnicos e práticos que se colocam à avaliação de resultados e/ou impactos. Aliás, é importante assinalar que, apesar do contexto específico e área de intervenção em que surge este guia, as questões técnicas e soluções propostas são aplicáveis a muitas outras áreas, para não dizer todas.
No Guia, temos identificados os principais desafios que se colocam ao desenho de avaliações para programas e projetos de P/CVE. Por um lado discutem-se desafios analíticos como a “impossibilidade de medir um negativo” procurando evidenciar que a radicalização não acontece porque existiu determinada intervenção, ou as dificuldades de acesso aos públicos-alvo; mas encontramos também a discussão de um conjunto alargado de desafios mais práticos que se colocam a quem quer desenhar e implementar processos de avaliação.
Abordam-se desafios práticos como a disponibilidade e fiabilidade dos dados, dificuldades em ativar a participação de stakeholders, falta de recursos ou a dificuldade de desenvolver baselines robustas e ainda a ausência de dados fiáveis e atualizados (como estatísticas oficiais sobre taxas de sucesso/reincidência) contra os quais triangular os resultados das avaliações. No entanto, tão relevantes como os desafios analíticos ou práticos são as questões éticas que devem estar presentes quando desenhamos avaliações e que são discutidas em profundidade no Guia.
Visto tratar-se de um Guia cujos utilizadores serão maioritariamente técnicos de intervenção, são apresentadas formas de responder metodologicamente e tecnicamente a todos os desafios, seja qual for a sua natureza. Assim sendo, apresenta-se no guia uma proposta de processo de construção de avaliações que permite ultrapassar muitos dos desafios apresentados e um desenho centrado em três naturezas de resultados/impactos na área da P/CVE:
- Atitudes
- Comportamentos e Práticas
- Relações e Redes de Socialização
Encontramos também no Guia uma discussão central e útil em qualquer área de intervenção, quando pensamos em avaliações de resultados e/ou impactos, a do estabelecimento fundamentado e robusto de relações/nexos de causalidade.
São apresentados três grandes grupos de estratégias metodológicas: abordagem contrafactual, consistência das evidências com a relação causal e exclusão de explicações alternativas. Estas opções são explicadas nos seus princípios e possibilidades práticas de implementação.
No final do Guia podemos encontrar um processo e etapas para construir planos de avaliação que podemos usar seja qual for a opção metodológica selecionada para as avaliações, bem como um conjunto de recomendações para melhorar a qualidade das mesmas e maximizar o seu potencial para influenciarem positivamente a tomada de decisões futuras.
A elaboração deste guia foi um processo muito interessante pelo desafio de criar um documento que fosse simultaneamente acessível a não especialistas em avaliação, mas robusto e tecnicamente sólido, permitindo que técnicos, da área da P/CVE, mas também outros, desenhem melhores avaliações. Desde o seu lançamento que já houve ocasião de debater muitos dos seus conteúdos com interventores de vários países e de comprovar que, não sendo obviamente uma resposta completa, ou que contenha as respostas a todos os problemas que enfrentam os técnicos nas suas intervenções, é um contributo útil e que tem funcionado como catalisador de novas reflexões e até já práticas avaliativas em organizações e equipas que trabalham na área da prevenção e combate à radicalização violenta.
Encontra o guia aqui (ENG).