Medir impacto para quê e para quem, nas organizações sociais?

Medir impacto para quê e para quem, nas organizações sociais?

No universo das organizações sociais a avaliação de impacto é um tema recorrente. São exigidas avaliações de impacto nas candidaturas a prémios e nos financiamentos de projetos. Seríamos tentados a pensar que encontraríamos muitos relatórios de avaliação de impacto online, orgulhosamente pendurados nos sites das respetivas organizações. Pois bem, não.

Experimente. Coloque num motor de pesquisa “Relatório de avaliação de impacto” em português. Pode ser que tenha mais sorte que eu, ou que no tempo entre a minha escrita e a sua leitura, as organizações já tenham considerado que se se fazem e se são bem feitas, as avaliações de impacto deveriam ser partilhadas – para dar evidência do que fazem e para ajudar outros a perceber a relevância de o fazerem. Mas a informação existe, com certeza, não está é ao alcance de um ou dois cliques na internet. Em inglês o resultado é expressivo, e contém também empresas, não só organizações sociais.

"se se fazem e se são bem feitas, as avaliações de impacto deveriam ser partilhadas – para dar evidência do que fazem e para ajudar outros a perceber a relevância de o fazerem."

Na minha pesquisa encontrei um exemplo muito interessante. Não só em termos da avaliação em si, mas da forma como está a ser comunicada de momento. É da Associação Dignitude e do seu Programa ABEM. A avaliação de impacto foi realizada junto dos beneficiários em termos de saúde, inclusão e qualidade de vida, e junto de outros stakeholders. Foram também avaliados impactos indiretos, na redução da despesa associada ao não cumprimento da terapêutica, na coesão territorial e na redução da despesa associada a episódios de urgência e internamentos.

Avancemos, pois, para a resposta à pergunta que faz o título.

Primeiro, assentemos numa definição de impacto. Já vi tantas diferentes, mas não vejo vantagem na proliferação. Gosto da definição da EVPA: impacto é a atribuição de mudança de longo prazo à atividade da organização. Acho útil pensar em termos de modelo lógico (reconhecendo o defeito deste modelo passar uma imagem de linearidade que os problemas sociais não têm) e distinguir o que é monitorizar o desempenho – as atividades e os outputs (ou resultados), do que é avaliar impacto (os outcomes ou efeitos e o impacto no sistema). Para entender bem a diferença podemos, por exemplo, considerar o No Poupar está o Ganho, programa de literacia financeira para crianças e jovens da Fundação Dr. António Cupertino de Miranda. Numa das suas comunicações em 2021, esta sobre o estudo de impacto que contrataram, referem que abrangeram no triénio em análise 17.233 crianças e jovens (um output) e que 22,87% destes melhoraram a sua classificação na disciplina de Matemática nesse período (um outcome). Ainda, através um estudo quase experimental, demonstrou-se que 62,23% das crianças de uma amostra representativa melhoraram significativamente as suas Competências de Literacia Financeira (outro outcome), em comparação com grupos de controlo (que não participaram no projeto) em que não ocorreram quaisquer mudanças. Estes outcomes são evidência de impacto e com esta metodologia é possível ter evidência clara do contributo do Programa para a resolução do problema. Há também evidência de impacto ao nível das famílias, e devemos ainda considerar como impacto ao nível do sistema a contribuição da Fundação para o Plano Nacional de Formação Financeira e para o Referencial de Educação Financeira para a Educação Pré-Escolar, o Ensino Básico, o Ensino Secundário e Formação de Adultos.

As ilustrações de impacto nestes dois exemplos torna evidente que são relevantes como argumentos perante investidores ou doadores. Mas será só? Com certeza que não.

De facto, a evidência de impacto dá-nos material para comunicar para o exterior, em pedidos de financiamento, nos relatórios anuais, nas redes sociais, reforçando a reputação. Mas para o interior, a medição de impacto e a utilização dos resultados para efeitos de gestão é essencial. Permite melhorar práticas, tornando os projetos mais eficazes desde o início porque ajuda a perceber o que se está a alcançar com o trabalho e facilita a aprendizagem, também com os erros. Se permite aumentar a eficácia, a gestão para o impacto garante que se está a cumprir melhor a missão. Permite, finalmente, também motivar os trabalhadores e assim reforçar a coesão interna. E hoje, com tantos desafios na atração e retenção de pessoas, esta questão é tão ou mais importante do que sempre foi.

Partilhe connosco o seu Relatório de Avaliação de Impacto. Envie-nos para contacte@deforafora.com. Ou, em alternativa, escreva na de-fora-a-fora sobre o que aprendeu com o desenvolvimento desse relatório. Estaremos deste lado, a dar visibilidade.