Não sou “specialist in ESG”!*

Não sou “specialist in ESG”!*

Fiquei curiosa e tentei entender esta popularidade inesperada. Resumo e interpretação dos comentários: primeiro, há quem tenha um passado e um historial consistente de dedicação à sustentabilidade e que se sinta irritado ou menos valorizado com a recente mobilização à volta dos temas do desenvolvimento sustentável e a reivindicação emergente da tal especialização ESG. A estas pessoas, respondo que não se deviam preocupar, esta mobilização é uma vitória e, com certeza, tiveram a sua parte de participação na consciencialização.

Não vamos começar a julgar motivações, e se houver algum oportunismo, é, afinal, bastante oportuno. Podemos, sim, aproveitar as boas vontades e o novo zelo para ganhar dimensão e multiplicar as boas-práticas, fazendo pressão nos líderes. Integrar a sustentabilidade nas decisões políticas e económicas é uma fonte de inovação, multidimensional e inesgotável.

Já não há nem um cargo nem uma profissão que escape. Há trabalho e futuro para todos.

Outra reação é a de um grande ceticismo, que partilho: “o que significa esta fórmula `specialist in ESG`?” Se a levarmos a sério voltamos quase ao Século XVIII, em que um letrado empenhado podia aceder a um saber universal. Infelizmente, as três letras do ESG (que representam Environmental, Social and Corporate Governance) declinam-se numa multiplicidade de problemáticas complexas. No melhor dos casos, podemos reivindicar uma boa cultura geral dos temas da sustentabilidade (palavra muito mais interessante do que o significado desta sigla ESG, que isola as dimensões); podemos ser expert numa das sub dimensões; podemos entender muito bem a interdependência entre questões ambientais, climáticas, sociais e a sua relação com as empresas – numa perspetiva estratégica, com capacidade para orientar e argumentar arbitragens e olhar para os dilemas. Com sentido crítico e, sobretudo, capacidade em fazer as perguntas certas aos peritos. É isso que tentamos fazer na Sair da Casca. Sempre em parceria com as organizações e os especialistas. É, para mim, a caraterística mais desafiante e interessante – juntar a expertise técnica, o conhecimento científico, a sensibilidade para o contexto do mercado e o imperativo de aumentar a informação dos profissionais e público em geral.

*Republicado com a autorização da RH Magazine (versão original na RH Magazine de Março/Abril 2023)